O que é?
A Leishmaniose Canina é uma doença infecciosa grave transmissível entre cães e que é também uma zoonose (doença transmitida ao homem pelos animais).
É causada por um protozoário da espécie Leishmania infantum, transmitido pela picada de fêmeas hematófagas de insetos do género Phlebotomus, nomeadamente Phlebotomus perniciosus e Phlebotomus ariasi. Estes flebótomos (vulgar e erradamente referidos como mosquitos) têm atividade principalmente noturna, estendendo-se do entardecer até ao amanhecer. A época mais favorável à transmissão desta doença é, de uma forma geral, de Maio a Outubro; contudo, devido ao aquecimento global, os períodos favoráveis terão tendência a aumentar, o que pode conduzir ao aumento das Leishmanioses em Portugal.
Em Portugal, mas também nos restantes países da Bacia Mediterrânica, esta é uma doença endémica. Consideram-se endémicas (zonas com mais casos registados) as regiões de Trás-os-Montes e Alto Douro, Cova da Beira, Lousã, Lisboa, Setúbal, Évora, Coimbra e Algarve, mas há que referir que em quase todo o território continental são detetados casos esporádicos da doença.
Como se manifesta?
A Leishmaniose Canina manifesta-se na maioria das vezes como uma doença viscero-cutânea, porque há envolvimento dos órgãos internos (medula óssea, gânglios linfáticos, baço e fígado) e alterações cutâneas.
É geralmente uma doença crónica, cujos sinais clínicos podem desenvolver-se entre 3 meses a 7 anos após a infecção. Com a cronicidade da doença, os animais infectados produzem anticorpos de uma forma exagerada que se vão depositar nas paredes dos vasos sanguíneos levando a lesões em vários tecidos e órgãos, como as articulações, olhos, intestino e rins. Nos cães, as lesões nos rins conduzem ao desenvolvimento de insuficiência renal crónica, a qual, geralmente, é a principal causa de morte por leishmaniose canina.
Os sinais clínicos desta doença são muito variáveis. Geralmente começam com uma apatia progressiva e intolerância ao exercício. As lesões da pele são das mais frequentes; geralmente não causam prurido e começam com uma perda de pêlo progressiva acompanhada de seborreia seca podendo surgir feridas. Alguns animais desenvolvem úlceras no nariz e pavilhões auriculares. Nalguns cães desenvolvem-se lesões oculares. O crescimento exagerado das unhas e o corrimento nasal sanguinolento (epistáxis) são também sinais muito frequentes. A perda de peso e a atrofia muscular são dos sinais mais frequentes quando existe um comprometimento visceral (fígado, baço, rins), mesmo que o animal tenha aumento do apetite.
Quando os cães desenvolvem insuficiência renal crónica, o seu estado geral agrava-se bastante. Nesta fase, os animais apresentam anorexia, poliúria (urinam muito) e polidipsia (ingerem mais água). Nas fases mais adiantadas desta insuficiência podem também apresentar vómitos e diarreia.
A imunossupressão, causada pela própria doença, pode promover a ocorrência de infeções concomitantes que complicam o quadro clínico.
Tratamento
A Leishmaniose Canina é fatal caso não seja tratada, e mesmo com tratamento os animais afetados podem morrer.
Durante o tratamento é possível controlar a carga de Leishmanias no animal, contudo, na maioria das vezes, não é possível eliminar a infeção, ocorrendo frequentemente recidivas.
Como o animal pode ficar portador do parasita ou estar sujeito a reinfeções, após a melhoria clínica pode ser necessário que o cão tome comprimidos durante o resto da vida para controlar a infeção, e devem ser repetidas análises para controlo da resposta ao tratamento.
As fêmeas devem ser esterilizadas, pois durante o cio as defesas imunitárias diminuem, podendo originar recaídas.
Caso os donos não optem pelo tratamento, é obrigatória a eutanásia do animal, uma vez que sem o tratamento a doença é mortal e eleva o risco em termos de Saúde Pública. Esta obrigatoriedade advém do Decreto-Lei nº314/2003 de 17 de Dezembro.
Prevenção
A prevenção é a medida mais importante para a saúde do animal uma vez que os tratamentos existentes não permitem eliminar definitivamente a infeção, podendo os animais apresentar recidivas passados meses a anos. Adicionalmente, o custo médio para tratar um episódio de Leishmaniose pode facilmente ser superior ao custo da prevenção da doença durante toda a vida um cão.
Atualmente, está disponível a vacina contra a Leishmaniose Canina na Europa. Esta vacina tem por objetivo estimular o sistema imunitário do animal para que este responda rapidamente em caso de contato com o parasita, impedindo assim que se desenvolva a doença.
Além da vacina devem ser aplicadas várias medidas preventivas:
- Uso de coleiras/pipetas repelentes dos flebótomos.
- Evitar os passeios ao entardecer e no amanhecer, pois corresponde ao período de maior atividade dos flebótomos.
- Assegurar um bom estado de saúde do animal, para proteger o seu sistema imunitário: boa alimentação, a vacinação e a desparasitação regular.
- Todos os animais doentes, em tratamento, ou que tenham recuperado de um episódio da doença, devem ser protegidos das picadas dos insetos.
- Efectuar rastreios anuais da Leishmaniose Canina que permitam o diagnóstico precoce da doença e, consequentemente, um tratamento mais eficaz.
Considerações de Saúde Pública
Tal como nos cães, no Homem, a Leishmaniose Visceral é fatal, caso não seja tratada. No entanto, no Homem, o tratamento tem uma taxa de sucesso elevada, sendo raras as recidivas, exceto nos indivíduos com imunodepressão (seropositivos, idosos, crianças muito pequenas, transplantados...).
A transmissão do cão ao Homem faz-se sempre por intermédio do flebótomo. A doença não se transmite por mero contato ou proximidade física.
O aumento da Leishmaniose Canina pode fazer aumentar a Leishmaniose Humana, o que torna ainda mais importante a vacinação dos cães.
INFORME-SE JUNTO DO SEU MÉDICO VETERINÁRIO SOBRE O ESQUEMA VACINAL PARA A LEISHMANIOSE!
FONTE: http://www.onleish.org/