"A vida dos cães é muito curta... O seu único defeito, aliás..."
Agnes Sligh Turnbull
A perda de um animal de companhia, seja através da sua morte, desaparecimento, roubo ou outras circunstâncias, é uma experiência devastadora e dolorosa. Para muitos, quase tão traumática como a perda de um familiar ou amigo, podendo dar origem a um processo de luto muito intenso. A alegria encontrada na companhia de um animal é uma bênção que não é conferida a todos.
Os animais em estado terminal ou muito debilitados podem aparentar estar a passar por um período final de isolamento e alheamento, resultado do seu declínio físico e não por estarem conscientes da sua morte iminente. A dignidade mostrada pelos nossos animais quando chegam ao fim pode muito bem ser uma lição e o seu último legado aos humanos.
Sofrer por um animal de quem se gosta é uma reacção normal e natural que se manifesta de maneira diferente de pessoa para pessoa. O choque, a negação e os sentimentos de raiva e culpa são frequentemente vividos quando temos de fazer face à esperança de vida limitada do nosso animal, associada a um sentimento de incapacidade para evitar esse destino quase certo.
À medida que tentamos lidar com a realidade da perda, muitos passam por fases de desgosto e dolorosa tomada de consciência, alternados com períodos de exaustão e automatismo. É importante reconhecer os nossos sentimentos quaisquer que eles sejam, e conceder a nós próprios a permissão de sentir pesar. Esta é uma oportunidade para um crescimento emocional.
A reorganização dos sentimentos e a resolução do desgosto pode ocorrer numa questão de dias, semanas ou mesmo anos, à medida que integramos os nossos sentimentos. Com o passar do tempo, focamo-nos mais nas memórias que temos do nosso amigo querido e menos na angústia da separação. A sua vida é e continuará a ser mais cintilante devido ao tempo que compartiu com o seu animal. Este é o melhor testemunho ao valor da vida do seu amigo.
Como lidar com a perda:
- Não tema os seus sentimentos, esteja aberto a partilhá-los;
- Faça exercício, alimente-se devidamente e descanse;
- Envolva-se em actividades que lhe proporcionem prazer e conforto;
- Evite bebidas alcoólicas e outras drogas que podem intensificar sentimentos de depressão;
- Viva um dia de cada vez;
- Recorra a ajuda profissional ou a grupos de apoio se entender necessário.
Como apoiar alguém que sofre pela perda de um animal de companhia:
- Assim que souber, entre em contacto. Nunca é tarde para oferecer apoio e compreensão;
- O silêncio é por vezes a postura mais adequada. Uma companhia silenciosa também confere conforto;
- Em vez de usar frases feitas que apenas minimizam a perda, diga apenas que lamenta ou pergunte como é que pode ajudar. É útil falar abertamente acerca da perda;
- Aceite os sentimentos do seu amigo, sejam eles quais forem;
- Tente não ficar perturbado ou desconfortável se o seu amigo chorar. Lembre-se que as lágrimas podem ser terapêuticas;
- Não tenha medo de oferecer um abraço;
- Tente planear actividades que possam fazer juntos. Se uma oferta for recusada não fique ofendido e não desista;
- Seja paciente; o desgosto é um processo individual e a resolução surge em tempos diferentes para diferentes pessoas;
- Lembre-se do seu amigo em dias especiais tais como aniversários e festas bem como a data do desaparecimento do animal, tempos em que a perda possa ser mais sentida, etc.
No caso das crianças:
O desaparecimento do animal de estimação é muitas vezes a primeira experiência das crianças a lidar com a morte e a sensação de perda, pelo que é importante que os pais os ajudem a expressar o que sentem de uma forma saudável.
Algumas dicas:
- Seja o mais directo e honesto possível - evite eufemismos como "pô-lo a dormir", especialmente em crianças jovens que por vezes não compreendem a diferença entre o sono e a morte;
- Não minta sobre as circunstâncias que envolvem o desaparecimento do seu animal - não diga que "ele fugiu" ou que "foi viver com os amigos" pois a criança apenas substitui o tipo de dor para a sensação de abandono;
- Faça-o(a) perceber que a culpa não é dele(a) - muitas vezes as crianças fazem parte das rotinas diárias dos seus animais e, especialmente as crianças mais novas, podem pensar que são a causa de tudo o que acontece na sua vida;
- Permita-lhe que se despeça do animal - pode ser aconselhável que crianças muito pequenas não estejam presentes pois têm maior dificuldade em lidar com as suas emoções;
- Deixe-lhes manifestar a tristeza de maneiras diferentes - providencie actividades para descarregar tensões (desenhar, escrever poemas, etc.);
- Desencoraje a "substituição"- é importante que lidem com a perda do animal de estimação e que tenham tempo para pensar e se envolvam na escolha do novo amigo de 4 patas;
- Sirva de exemplo - e mostre os seus sentimentos e ensine-os a lidar com a perda;
- Providencie um ambiente confortável e seguro - informe os restantes adultos que têm contacto com a criança sobre o que aconteceu de modo a poderem dar-lhes apoio adicional.